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Complexo da Reitoria UFPR: Um dos marcos da Arquitetura Curitibana

por Mayra Abalem

Com uma história muito bonita carregada de luta, resistência e reconhecimento em um momento de tantas mudanças no país tanto em aspectos políticos, econômicos quanto sociais, surge o o complexo da Reitoria da Universidade Federal do Paraná.
No ano de 1939, alguns intelectuais do Paraná, pensaram na possibilidade de criar na capital paranaense, uma instituição que tivesse o objetivo de ampliar a cultura no domínio de ciências puras, promover pesquisas e desenvolver ao longo do tempo o exercício do magistério, aperfeiçoando a educação técnica de diversas atividades nacionais.

Fundada em 1938, a faculdade inicialmente locava-se no Instituto Santa Maria, propriedade dos irmãos Maristas, e posteriormente optou-se pela construção do edifício para a então Faculdade de Filosofia.
De início, o o edifício seria construído na Praça Santos Andrade, porém decidiu-se proceder com o projeto que iria abrigar os cursos de Filosofia, Ciência, Letras e a Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas, ao terreno na Rua XV de Novembro.

Curitiba abriga estudantes de todos os cantos do Paraná e do Brasil, afinal de contas Curitiba se tornou uma referência de cidade universitária e a Universidade Federal do Paraná é reconhecida ainda hoje, como uma das melhores do país.
Entre os anos 1940 e 1950, o Reitor da Faculdade, Flávio Suplicy de Lacerda, lançou-se ao grande desafio de federalizar a universidade, e através da lei 1.254 de 04 de Dezembro de 1950, conseguiu o feito.
A partir de 1954, iniciaram-se novos trabalhos e pesquisas em áreas como Genética, Etnografia, Zoologia e História.

Em 20 de Abril de 1956, o Edifício D. Pedro I, ganhou vida e abrigou a Faculdade de Ciências Econômicas. O nome se deu devido as comemorações do Sesquicentenário da Independência do Brasil. O edifício acabou por se tornar um espaço muito importante para formações intelectuais e pesquisas no Paraná, formando importantes cientistas reconhecidos nacional e internacionalmente.

O complexo de prédios existentes, no qual denominamos de Reitoria, ao longo de todos esses anos, tornou-se um espaço de diversas manifestações, e também um grande ponto de referência da cidade.
No projeto inicial, existia um estacionamento no meio do terreno, que em 1980 tornou-se uma praça, onde estudantes, professores e funcionários usam como espaço de lazer.

É importante notar como a ressignificação espacial mostrou sua importância com essa alteração do projeto inicial. Hoje esse espaço se comunica com a cidade, possibilitando com que qualquer cidadão possa desfrutar do átrio e deslumbrar a arquitetura do seu entorno.

Localizado no centro da cidade, o Campus da Reitoria já foi palco de diversas manifestações de seus alunos, como por exemplo o ato de repúdio à ditadura em 14 de Maio de 1968, onde os estudantes derrubaram pela primeira vez o busto do Reitor Flávio Suplicy em ato de protesto contra a implementação do ensino pago na universidade. Os manifestantes conseguiram através desse ato com que a cobrança da mensalidade fosse cancelada, porém nesse mesmo ano, houve a implantação da AI-5 que inviabilizava reivindicações em massa pelos próximos anos.

Flávio Suplicy foi o responsável por trazer o projeto do MEC, mas devido a existências de vários projetos já prontos pelo MEC, o então ex-reitor e Professor Flávio acabou pegando o que estava mais disponível, devido a urgência para recorrer as verbas.
Uma peculiaridade muito comentada devido a este feito, é que este projeto deveria ser implementado no Nordeste, suponha-se inclusive que em Salvador, e por este motivo muitos alunos e ex-alunos da faculdade se queixam do desconforto térmico no interior das edificações, afinal de contas, as condições térmicas do Nordeste e do Paraná são bem diferentes.

Em um livro publicado em 2002, chamado “Universidade Federal do Paraná – 90 anos em construção”, os arquitetos Key Imaguire Junior e Cleusa de Castro, explicam a baixa temperatura no interior dos prédios que originam esse boato.
O que ocorre, é que como explicado pelos arquitetos no livro, a orientação dos brises acabam por não permitir o controle da captação solar, além da fidelidade em excesso aos princípios modernistas.

Os dois Edifícios paralelos entre si, que fazem parte do complexo, foram projetados pelo arquiteto David Xavier Azambuja, e são considerados até hoje, grandes ícones da Arquitetura Curitibana dos anos 1950.

Segundo o Professor Paulo Chiesa, o projeto teve inspiração no Ministério de Educação e Saúde do Rio de Janeiro, projeto do Arquiteto Lúcio Costa e equipe. Segundo Chiesa, a lenda do projeto ter sido pensado para outra região, é devido a uma crítica aos prédios modernistas que não enxergavam problema algum na repetição de estilo, e de que seria possível projetar o moderno em qualquer lugar do planeta.

O que certamente é notável, é que existe sim similaridades com o projeto de Lúcio Costa, sendo notadas por exemplo em características como, os volumes sobre os pilotis que liberam os acessos ao térreo, o uso dos brises fixos nas fachadas, o uso de rampas para solução de circulação vertical em evidência por fachadas envidraçadas, e a praça localizada no centro do complexo, que também é uma grande característica modernista.

O que não podemos discordar é que de fato o complexo de edifícios da Reitoria é um grande marco na arquitetura da nossa cidade. Tombados como Patrimônio Cultural, os corredores dessas edificações carregam muitas histórias e conquistas das quais devemos nos orgulhar.
Diariamente esses prédios são frequentados por alunos que almejam por um futuro melhor, buscando mais pela educação e pelos seus direitos como cidadãos.
O Complexo da Reitoria merece nosso respeito, não somente por ser uma referência na Arquitetura Modernista em Curitiba, mas também por formar todos anos profissionais capacitados a carregar seus sonhos à porta a fora da Universidade Federal do Paraná.

Fontes:
http://www.patrimoniocultural.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=230
https://www.gazetadopovo.com.br/haus/arquitetura/arquitetos-desmentem-boato-que-ronda-os-predios-da-ufpr/
https://ditaduraemcuritiba.com.br/reitoria-da-ufpr/

Fotografias:
Pedro Pilati @pedropilati
Vinícius Moscato @vinimoss



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