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Edifício Essenfelder

por Diego Minella

O PIANISTA

Com linhas retas bem definidas, detalhes em cinza e uma fachada de vidros espelhados em tom escuro, o Edifício Essenfelder, localizado no Alto da Glória, na esquina da Avenida João Gualberto com a Rua Mauá, transmite pela sua presença um ar de seriedade.

Construído entre 2000 e 2004, o prédio de vinte e nove andares foi desenvolvido para atender ao setor corporativo. Com 58 lojas e 194 unidades de escritório, tornou-se nos anos seguintes a sede de diversas empresas e órgãos públicos. Sua estrutura de 31.264 m² oferece oito elevadores, ar condicionado central, quatro andares de subsolo que somam 289 vagas de estacionamento, além de um heliponto.

Ao pensar apenas sobre essas características físicas, dificilmente seria feita qualquer correlação da música com esse edifício. Pois bem, essa é uma das curiosidades que o diferenciam. Seu nome é uma referência a antiga fábrica de pianos Essenfelder.

Florian Essenfelder, fundador da fábrica, nasceu em Friedland, Alemanha, em 1855, e a partir da experiência de trabalho na fábrica alemã C. Bechstein, em Berlim, surgiu a sua intimidade com a música e os pianos. Anos mais tarde, em 1889, Florian embarcaria junto com sua família, esposa e dois filhos, em direção a cidade de Buenos Aires, onde trabalhou como técnico de pianos. No ano seguinte, em 1890, começou a produzir seus próprios pianos dando origem a marca Essenfelder.

Oito anos depois, Florian apresentou em Buenos Aires, o primeiro piano de cauda produzido na América do Sul, obra que lhe rendeu um prêmio entregue diretamente pelas mãos do General Júlio Roca, então presidente da Argentina.

Em 1899, porém, após a morte de sua esposa, Essenfelder deixaria a Argentina junto a seus filhos, que agora eram seis, com destino ao Brasil. Inicialmente, instalou-se em Rio Grande, transferindo-se posteriormente para Pelotas, também no Rio Grande do Sul, onde permaneceu por algum tempo dando continuidade à produção. No entanto, passou a ter dificuldades para encontrar madeiras adequadas na região.

Em 1909, ao ficar sabendo da qualidade e variedade das madeiras no Paraná, mudou-se para Curitiba, onde instalou a F. Essenfelder & Cia Ltda no mesmo terreno que hoje abriga o Edifício.

Na capital paranaense, além das madeiras de qualidade, a fábrica teve a demanda pelo produto alimentada pelas famílias de imigrantes europeus, que antes tinham dificuldades para encontrar o instrumento, recorrendo, geralmente, à importação. Ainda, naquela época, possuir um piano era um símbolo de status social, fator que também impulsionava as vendas.

Florian Essenfelder faleceu em 1929, mas os pianos continuaram a ser produzidos. A gestão da fábrica foi sucedida pelos filhos que haviam adquirido o conhecimento técnico necessário ao trabalhar desde cedo junto ao pai na indústria da família.

Um dos filhos do patriarca, Frederico “Fritz” Essenfelder, nascido na Argentina, além de produzir pianos, participou diretamente da fundação do Coritiba Foot Ball Club, no qual também atuou como jogador e capitão do time entre 1909 e 1917. O Estádio Major Antônio Couto Pereira, sede do time, está a apenas 10 minutos de caminhada da antiga fábrica.

Não por acaso, uma das ruas no entorno do Estádio chama-se Floriano Essenfelder, em homenagem ao fundador da fábrica.

Ao completar 100 anos, em 1990, a marca Essenfelder recebeu variadas homenagens. Entre elas, uma faixa de pedestres comemorativa, em frente a fábrica, pintada de modo a reproduzir as teclas de um piano.

A década de noventa, entretanto, representa o início do declínio da Essenfelder, em razão da política econômica do governo Collor, que facilitava a importação de diferentes produtos, inclusive pianos. Dessa forma, instrumentos importados passaram a ser vendidos no mercado interno com um preço muito mais acessível. Houve, também, dificuldades para lidar com a inflação e os elevados juros da época. Aos poucos a companhia foi perdendo competitividade, e a produção chegou a cair cerca de dois terços.

Diante desse cenário, com a necessidade de levantar recursos, em torno de 1995, a empresa opta por vender o próprio terreno onde estava instalada. Este havia se valorizado de forma significativa ao longo dos anos com o crescimento dos bairros Juvevê e Alto da Glória.

O terreno foi comprado pela incorporadora Concorde Administração de Bens Ltda, que iniciou a demolição da fábrica. Mais tarde, passou a construir o prédio que hoje conhecemos como Centro Comercial Essenfelder.

Enquanto isso, a fábrica mudava-se para a cidade industrial de Curitiba (CIC) com o objetivo de se reerguer. A mudança, todavia, exigiu novos investimentos que a empresa não pôde suportar. Assim, entre 1996 e 1997, de forma melancólica, a centenária Essenfelder pedia falência e encerrava suas atividades.

Ao longo de sua existência, a companhia recebeu diversos prêmios e a qualidade dos seus pianos foi reconhecida internacionalmente em países como Argentina, Uruguai, Itália e França.

Anos mais tarde, em 2017, surgiria a nova Essenfelder, denominada Essenfelder Instrumentos Musicais Ltda, em homenagem a Floriano Helmuth Essenfelder, um dos filhos de Florian. A nova marca mantém parcerias com fábricas no exterior e busca atender tanto ao público iniciante, quanto ao mais experiente.

O Edifício Essenfelder ainda conta com outro fato interessante na bagagem. Logo após sua inauguração, partes do prédio foram locadas para abrigar instalações do Judiciário estadual. Em 2012, o edifício já contava com gabinetes de juízes, setores administrativos, e chegou a receber oito varas da Fazenda Pública de Curitiba. O custo total com aluguel era de R$ 401 mil reais mensais.

Em abril de 2012, o Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (TJPR) foi notificado sobre uma conta em aberto de quase um milhão e meio de reais, referente ao reajuste do aluguel que não teria sido pago desde o início daquele ano. Diante disso, o Judiciário estadual solicitou a desapropriação do edifício inteiro com o objetivo de tornar o Essenfelder uma sede do próprio Tribunal. Com isso, buscava-se economizar recursos ao deixar de pagar aluguéis mensais.

Após ação apresentada pela Procuradoria-Geral do Estado, a posse foi concedida ao Tribunal de Justiça do Paraná e o edifício desapropriado pelo governo estadual. O local foi nomeado como Palácio da Justiça – sede Mauá. O valor da desapropriação, de R$ 90,7 milhões, foi definido com base em avaliação feita pela Caixa Econômica Federal e pago com recursos do Judiciário. Outra avaliação, porém, sugeriu o preço de R$ 124 milhões. Em função dessa diferença, o valor pago pela desapropriação foi contestado na justiça.

No momento, o edifício é integralmente usado pelo TJPR e comporta setores de cinco diretorias diferentes, 66 gabinetes de juízes em 2º grau, 1ª, 2ª e 3ª Vara de Execuções Fiscais, seções de câmaras cíveis e criminais, além de diversos departamentos administrativos. Até onde foi possível apurar, no edifício não há qualquer menção a antiga fábrica de pianos que funcionou no local.

Texto disponível também no site predioscuritibanos.com

Ficha Técnica

Nome: Centro Comercial Essenfelder, Sede Mauá TJPR
Ano de construção: 2000 ~ 2004
Endereço: Rua Mauá, 920, Alto da Glória, Curitiba
Arquiteto: Flávio Appel Schiavon
Tipologia: Corporativo
Andares: 29
Unidades: Planejado para receber 58 lojas e 194 escritórios
Metragem: 31.264,75 m²
Acessos: acesso para pedestres pela Av. João Gualberto e pela Rua Mauá; acesso de veículos pelos fundos, Rua Campos Sales
Estrutura: Alvenaria
Altura: 104,25 m
Detalhes:  Heliponto

Fontes

Cartório do 2º Registro de Imóveis – Curitiba

Prefeitura Municipal de Curitiba – Secretaria Municipal do Urbanismo

MELLO, Esther Essenfelder Cunha. A história dos pianos Essenfelder. Curitiba, 1982

HARTWIG, Nathalia Lange. Do centenário ao declínio: os últimos cinco anos da fábrica de pianos Essenfelder (1990 – 1995) em Curitiba, Paraná. Monografia, Bacharelado em Música. Curitiba, 2013.

Coritiba Foot Ball Club.
<https://www.coritiba.com.br/artigo/11/fundacao>

Fritz, o primeiro ídolo coritibano. Gazeta do Povo, Curitiba, 12 de outubro de 2012.
<https://web.archive.org/web/20150923102915/http:/www.gazetadopovo.com.br/esportes/futebol/coritiba/especiais/eternos-campeoes/fritz-o-primeiro-idolo-coritibano-2i491437wy8y331q3o1h6eczy>

Essenfelder Instrumentos Musicais.
<https://www.essenfelder.com/historia>

ANTONELLI, Diego. O Expresso. Curitiba, 09 de junho de 2020.
<https://oexpresso.curitiba.br/2020/06/09/o-expresso-da-historia-ultimas-notas/>

TORRESAN, Vinícius. Curitiba perdeu o tom. Jornal Comunicação UFPR. Curitiba, 18 de outubro de 2011.
<http://www.jornalcomunicacao.ufpr.br/jornal/?p=10276>

MOSER, Sandro. Juiz desapropria prédio do Alto da Glória para o TJ por R$ 90,7 milhões. Gazeta do Povo. Curitiba, 09 de julho de 2012.
<https://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/juiz-desapropria-predio-do-alto-da-gloria-para-o-tj-por-r-907-milhoes-2xe8xw6dmnma01xt4g3ogvcy6/>

MOSER, Sandro. Obra do novo Fórum Cível deve sair do papel em agosto, diz TJ. Gazeta do Povo. Curitiba, 22 de julho de 2012.
<https://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/obra-do-novo-forum-civel-deve-sair-do-papel-em-agosto-diz-tj-2vrs77o97jsw6khx6e9rx3zgu/>

KOLBACH, Karlos; CESCA, Heliberto; ANÍBAL, Felippe. Governo desapropria centro comercial para ampliar sede do TJ. Gazeta do Povo. Curitiba, 4 de julho de 2012.
<https://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/governo-desapropria-centro-comercial-para-ampliar-sede-do-tj-pr-2dzgfgveja8uvwvf5pod9cxu6/>

MARÉS, Chico. Em meio a polêmicas, TJ elege hoje novo presidente. Gazeta do Povo. Curitiba, 2 de outubro de 2013.
<https://www.gazetadopovo.com.br/vida-publica/em-meio-a-polemicas-tj-elege-hoje-novo-presidente-358mnx8jn3x4n3g8s04va97bi/>

SANTOS FILHO, André Eduardo dos. Avenida João Gualberto tem construção
protomoderna e hospital criado por Artigas.
Gazeta do Povo/HAUS. Curitiba, 4 de fevereiro de 2017.
<https://www.gazetadopovo.com.br/haus/arquitetura/avenida-joao-gualberto-tem-construcao-protomoderna-e-hospital-criado-por-artigas/>

RUPP, Isadora. Os órfãos da Essenfelder. Gazeta do Povo. Curitiba, 28 de janeiro de 2011.
<https://www.gazetadopovo.com.br/vida-e-cidadania/os-orfaos-da-essenfelder-
dv1zego756k12lwo7710yxd8u/>

Tribunal de Justiça do Estado do Paraná (TJPR).

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5 comments

Marcelo Araujo 19 de junho de 2021 - 14:03

Apesar do edifício parecer ter um heliponto, nao sei exatamente se É um heliponto, pois não há identificação no chão, tampouco uma biruta no topo do edifício.
E outra, no sistema do drone, não há qquer menção sobre haver um heliponto ali naquela região. Vai entender!!!

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Diego Minella 20 de junho de 2021 - 12:51

Olá Marcelo, na planta a que tive acesso consta como heliponto, mas pelo visto nunca foi realmente utilizado

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Adriana 23 de agosto de 2021 - 02:32

Foi especial para mim ler esse artigo, meu pai trabalhou nesta fábrica por alguns anos, antes de sua morte em 1977 aos 31 anos.
em 2016 precisei levar minha mãe neste prédio, e jamais poderia imaginar que eu pisava em terras que meu pai pisou, minha mãe sempre contava que meu pai trabalhava em uma fábrica de piano, eu achava legal, mas agora sabendo dessa bela história de sucesso me sinto até especial pelo meu pai… Parabéns e obrigada pelo artigo

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Diego Minella 23 de agosto de 2021 - 13:24

Olá Adriana! Obrigado pelo comentário. Nosso propósito é exatamente esse, contar a história de Curitiba, e das pessoas que aqui viveram, por meio dos seus prédios. Quando comecei a pesquisar sobre o Edifício Essenfelder não fazia ideia da existência dessa fábrica de pianos! Fico feliz que tenha gostado!

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Floriano Essenfelder 24 de setembro de 2021 - 23:08

A historia é maravilhosa parabéns a todos que acham interessante o conhecimento de Curitiba

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