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Edifício Pedro Demeterco

por Diego Minella

Com sua cor rosa e uma cúpula em tom esverdeado posicionada de forma descentralizada no seu topo, o Edifício Pedro Demeterco se tornou um marco na paisagem curitibana.

Construído entre 1949 e 1953 pela conceituada Pedro Bergonse & Cia Ltda, este singular edifício de 15 pavimentos e 230 escritórios encontra-se na esquina da Alameda Doutor Muricy com a Rua Marechal Deodoro, no centro, quase em frente a movimentada Praça Zacarias.

O nome do edifício é uma homenagem ao patriarca da família. Nascido no Império Austro-Húngaro, na região da Galícia que hoje pertence a Ucrânia, Pedro Dmeterko chegou ao Brasil ainda criança, acompanhado de seus pais José e Victoria, e dos irmãos mais velhos, Nicolau e Miguel, em 1895.

Inicialmente, a família se estabeleceu em Thomas Coelho, na zona rural de Araucária onde se dedicavam a agricultura. Aos 16 anos de idade, Pedro começou a trabalhar fora de casa. O jovem imigrante usava carroças para transportar sacas de sal da estação ferroviária de Curitiba até a Refinaria Emílio Romani, situada na Praça Tiradentes.

Em seguida, passou a trabalhar no armazém Fortunato & Paiva, localizado na mesma praça. Pouco tempo depois, foi convidado a participar dessa empresa e, em 1918, após o falecimento do sócio, adquiriu as quotas remanescentes tornando-se o único titular. Assim surgiu a Pedro Demeterco & Cia.

Entre os diversos produtos vendidos, o café era um dos destaques. O processo de torrefação adotado pela firma chegou a ser tema de matéria do Diário da Tarde, em 7 de março de 1932.

Em maio de 1944, com pouco mais de 50 anos de idade, ocorreu o precoce falecimento de Pedro. Daquele momento em diante, seus filhos José Luiz Demeterco e Antenor Demeterco assumiram as atividades da empresa.

Com a sucessão, muitas mudanças ocorreram. Os irmãos criaram a Casa do Aço Ltda, que tinha como finalidade a importação de materiais de construção, ferragens, ferramentas e utensílios domésticos dos mais variados países. Em 1951, o antigo armazém da família foi remodelado e se tornou um dos primeiros estabelecimentos a operar no sistema de auto serviço, como hoje funcionam os supermercados. Esse foi o embrião da conhecida rede de supermercados Mercadorama.

Investimentos no segmento imobiliário também foram realizados. Nesse sentido, os filhos José Luiz e Antenor idealizaram a construção de um edifício comercial. Com essa intenção, adquiriram casarões antigos na Alameda Doutor Muricy para, na sequência, iniciar a construção do prédio nomeado em homenagem a Pedro. Coube a Antenor o acompanhamento da obra.

Para a construção do edifício, a maior parte dos materiais foi importada por intermédio da Casa do Aço Ltda. Ferro, mármore, elevadores, tudo foi trazido de fora, inclusive o cimento que vinha da extinta Tchecoslováquia. Somente após a instalação da fábrica da Votorantim, em Rio Branco do Sul, o cimento deixaria de ser importado.

Finalmente, em 19 de dezembro de 1953, o Edifício Pedro Demeterco foi inaugurado. Por ali passaram inúmeras empresas e repartições públicas. O 11º andar foi sede do Fórum Cível de Curitiba, enquanto a sobreloja recebeu o 2º Cartório de Protestos de Títulos. A Associação dos Municípios do Paraná, assim como as superintendências do Ministério do Trabalho e do Ministério da Agricultura também se instalaram no local.

Entre as empresas, destacam-se a Companhia Paranaense de Energia (Copel), a Atlantic Petroleum, a imobiliária Cilar, e o escritório da fábrica paulista de bicicletas Monark. O 10º pavimento foi a sede da Direção do Jornal Correio do Paraná, do jornalista Abdo Aref Kudri. O edifício também abrigou muitas óticas, entre elas o Laboratório Ótico Especialista e a Ótica Visão, que lá permanece até hoje.

Entre os atributos da obra, dois são os aspectos que mais chamam a atenção. A pintura rosa e a cúpula esverdeada no terraço.

O que poucos sabem é que o tom em rosa que tanto diferencia o edifício surgiu do tipo de reboco escolhido na época da construção, que era finalizado com pó de mármore roseado. Somente décadas depois, devido ao desgaste natural da fachada, é que foi usada, de fato, tinta de cor rosa.

No terraço, a cúpula está posicionada no lado do edifício que acompanha o ângulo da esquina. O adereço foi fabricado sob medida no Rio de Janeiro. Infelizmente, a referência sobre quem a produziu se perdeu no tempo. Para resultar na atual cor esverdeada, optou-se pelo uso do cobre na sua confecção, que com o passar dos anos vai adquirindo esse tom naturalmente.

Embora outras narrativas circulem a respeito dela, a verdade é que a cúpula foi feita em homenagem a Basílica de São Pedro, em Roma, em face da ligação da família Demeterco com a religião católica.

No terraço também se localiza a casa de máquinas dos elevadores e um apartamento, que durante muitos anos foi usado como moradia pelo zelador. O espaço logo abaixo da cúpula faz parte desse apartamento, que atualmente está vazio. Um estudo em andamento visa definir uma nova função para o terraço em virtude da privilegiada vista que de lá se observa. Outro projeto busca reestabelecer o sistema de iluminação noturna, que havia para destacar a cúpula.

Ao longo dos anos o edifício sofreu diversas reformas. No ano 2000, os três antigos elevadores Otis com cabines de madeira e portas pantográficas foram substituídos por equipamentos modernos da Atlas. Originalmente, o elevador central era dimensionado para receber cargas mais pesadas que os demais, em especial cofres, principalmente em razão de um Banco instalado no local.

Em 2005, toda a parte elétrica e hidráulica foi substituída. Em 2014, o hall de entrada e a portaria foram reformados. O sistema de câmeras de monitoramento foi modernizado e catracas instaladas a fim de controlar o acesso.

Todavia, foi em 2018 que ocorreu a maior reforma. Todas as 676 janelas de ferro originais da época da construção foram substituídas por modelos atuais, em alumínio e vidro laminado refletivo. Considerando que algumas salas possuem onze janelas e outras apenas três, um rateio foi feito entre os condôminos de forma proporcional ao número de janelas de cada proprietário.

O cabeamento de telefonia e internet foi trocado. Na parte externa, a pintura foi renovada com uma tinta elástica de maior impermeabilidade e de tom rosa mais intenso. Além disso, os pontos de instalação de ar condicionado foram padronizados e concentrados na fachada posterior.

Atualmente, cinquenta por cento das unidades do prédio ainda pertencem aos herdeiros de Antenor, enquanto os outros cinquenta estão distribuídos entre diversos proprietários, que adquiriram os imóveis dos sucessores de José Luiz.

Distribuídos nos 15 pavimentos do elegante Edifício Pedro Demeterco, encontram-se escritórios de advocacia, empresas de contabilidade, clínicas médicas, consultórios odontológicos, psicológicos, imobiliárias, óticas, entre tantos outros serviços.

Texto disponível também no site predioscuritibanos.com

Ficha Técnica:
  • Nome: Edifício Pedro Demeterco
  • Ano de construção: 1949 ~ 1953
  • Endereço: Alameda Dr. Muricy, 542 – Centro, Curitiba
  • Tipologia: corporativo
  • Andares: 15
  • Unidades: 208 escritórios, 8 lojas no térreo e 6 sobrelojas
  • Acessos: 1
  • Detalhes: Cúpula no terraço e pintura em rosa. Acesso controlado, três elevadores. Não possui estacionamento.

Fotos por Guilherme da Costa @glhrmcst

Fontes:

Henrique Demeterco, neto de Pedro Demeterco 

Um produto que conquistou a preferência do público consumidor: o café Galgo da firma Demeterco & Cia. Diário da Tarde, Curitiba, 7 de março de 1932. Edição 11132, p. 5. Biblioteca Nacional/Hemeroteca Digital Brasileira (BN/HDB).<http://memoria.bn.br/docreader/800074/37396

A ação da Caixa Econômica: Depois de incutir a mentalidade da economia privada, está estimulando a ambição pelo lar próprio – Curitiba deve-lhe alguns dos seus aspectos mais expressivos, oferecidos pelos grandes edifícios. O Dia, Curitiba, 1º de julho de 1952. Edição 9051, p. 14. (BN/HDB). 
<http://memoria.bn.br/docreader/092932/75094

Curitiba cresce para o alto: construções gigantescas da Capital que perde o sorriso provinciano, para adquirir os caracteres das “corumbás”. O Dia, Curitiba, 11 de março de 1953. Edição 9256, p. 8. (BN/HDB). 
<http://memoria.bn.br/docreader/092932/77557

Administração do Correio do Paraná comunica a mudança para o Edifício Pedro Demeterco. Correio do Paraná, Curitiba, 21 de julho de 1959. Edição 45, p. 1. (BN/HDB). 
<http://memoria.bn.br/docreader/171395/17221

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