A Arte Pública é uma das vertentes que compõe o termo “Arte
Mural”, este está presente na noção de sociedade desde a era pré
histórica, com a representação deste povo nas paredes das cavernas.
Percebe-se que desde aquela era até a atualidade, a arte mural existe para
representar os estilos de vida, as críticas sociais, os comportamentos e
atitudes ideológicas de uma comunidade. Esta representação surge por meio de
desenhos, sinais e formas de escrita que dão corpo a um contexto artístico que
integra o meio ao qual está inserido.
Com o desenvolvimento da sociedade artística, vê-se diferentes usos de matérias primas para executar este tipo de arte, podendo ser utilizado madeira, concreto aparente, cerâmica, pinturas, lambes – papéis colados em superfícies com cola – e projeções midiáticas, estas começam modificar a percepção de que o muralismo é apenas fixo e imutável quanto a sua superfície, e passa a apresentar soluções móveis e efêmeras desta forma de manifestação.
Sendo
assim, esta vertente também nomeada por arte de rua ou ainda da forma mais
conhecida, grafite, é uma manifestação crítica e social que teve início na
década de 60 e tem sido objeto de estudo das relações sociais e culturais de
diversos povos.
O grafite surge em momentos históricos e seus realizadores, muitas vezes,
anônimos, são as pessoas que com intenções pessoais e/ou coletivas materializam
através de escritas ou desenhos, desejos e frustrações, ou, ainda, exaltam
formas que retomam ou questionam seus territórios sociais. Isso faz com que a
produção deste gênero artístico adquira importância para os estudos sociais. Os
grafites revelam diversos aspectos da vida urbana: choques, saídas, criações,
combates e estratégias expressivas.
Desta forma, cada grupo ou indivíduo encontra a sua própria característica para difundir os seus ideais e/ou estilo artístico, a produção do grafite não possui nenhum pré requisito quanto à forma que deve ser realizado, sendo dependente apenas de que o público a ser alcançado possa ser identificado através da arte mural, da vontade de realização dos artistas e da oportunidade de encontrar a superfície que seja adequada àquela obra.
É importante destacar algumas características da arte pública, de forma a compreender como ela está diretamente ligada à concepção do espaço urbano realizada pelos habitantes das cidades. O arquiteto e escultor Siah Armajani pontuou os objetivos da arte pública apontando alguns fatores: a arte pública não trata do artista, mas de seu sentido cívico, isto quer dizer que o grafite tende a atingir um público, que não precisa ser especializado, ou seja, tende a atingir e se relacionar com cidadãos. Outra questão é que a arte pública também é mediação, é uma conversa com as pessoas que a veem, atraindo a atenção da população para contextos e histórias diferentes. Por fim, o espaço público sempre é político e a arte pública sempre está ligada à política, ou seja, a arte deve ser realizada de tal forma que seja baseada em necessidades concretas, refletindo uma produção cultural e social, que possa ser identificada e adotada por uma comunidade.
Considerando então que, a arte pública deve estar presente para se conectar com os cidadãos e sua presença promove aos locais maior valorização do ambiente, é visto que o grafite pode ser utilizado como meio de dar um novo significado ao espaço urbano. Cabe ressaltar que o grafite encontrou em uma cena marginal, no sentido de ações com um posicionamento deslocado quanto aos padrões sociais, a oportunidade de expressar diferentes formas de pensar e se relacionar com o mundo. Tudo isso pode ser observado em diversos locais de Curitiba, existem vários artistas que se manifestam em muitos pontos, principalmente no centro da cidade. Um dos lugares em que se pode perceber a interferência através do grafite é na Praça de Bolso do Ciclista localizada na esquina entre o marco zero da Rua São Francisco e a Rua Presidente Faria. A praça foi edificada em 2014, com o objetivo de proporcionar um espaço de lazer para ciclistas e amantes do esporte e estilo de vida. No entanto, também foi utilizada durante um período para oficinas e apresentações culturais. A primeira intervenção em grafite que a praça recebeu foi um floral da artista suíça Mona Caron, a qual informou que sua arte representava o florescimento do ambiente urbano, que está dando origem a novas formas de se locomover na cidade, como o uso da bicicleta. Pode-se perceber que sua justificativa faz alusão as teorias de que a arte pública representa um ideal e ocupa o espaço de forma a se integrar a ele. Além desta artista, diversos outros interferiram nas paredes da praça, criando até um diálogo com várias tipologias diferentes de manifestação.
Outro ponto que pode ser citado é o viaduto da Av. Marechal Floriano Peixoto localizado entre a avenida a qual lhe dá o nome e a BR 116, também conhecida como Linha Verde. Este viaduto foi construído na década de 70, durante o crescimento do sistema viário de Curitiba e possui uma estrutura que funciona como grandes telas. Também no ano de 2014, o Ministério da Cultura promoveu o projeto Mural Street of Styles – Linha das Artes, contando com a participação de 35 artistas paranaenses que se expressaram nas colunas de sustentação do viaduto. Um local estratégico onde diversas pessoas transitam todos os dias, tanto a pé, como em veículos particulares e de transporte público, as áreas obsoletas se tornaram uma extensa galeria urbana que transforma o olhar do habitante quanto a cidade.
Sendo assim, compreende-se a arte de rua como um manifesto político, sendo possível destacar a relação entre a arte e o anseio de mudar o entorno sobre o qual será inserido, e ainda a percepção de seus observadores quanto a algum tema específico. O grafite não só da cor e vida aos espaços urbanos, como o torna cada vez mais humano e identitário.
Fontes:
- CASTANHO, Luís Alexandre. Arquitetura modular: proposta de pocket park e galeria a céu aberto para requalificação e ressignificação de vazios urbanos na cidade de Curitiba (PR). Trabalho de conclusão de curso – Arquitetura e Urbanismo, Centro Universitário Curitiba, Curitiba, 2018.
- SILVA, Armando. Atmosferas urbanas: grafite, arte pública, nichos estéticos. Trad. Sandra Trabucco Valenzuela. São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2014.
Fotografias: Mayalison Rodrigues
Graffite da Capa: João Marcos (@joao_utopia)