Nesse espaço, vamos tratar sobre alguns projetos de edifícios do período da arquitetura moderna em Curitiba.
Começamos com a obra dos arquitetos Ricardo Pereira e Zenon Pesch, formados pelo curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Paraná no início dos anos 70 e que logo nos primeiros anos de carreira já tiveram a encomenda de algumas obras importantes para o nosso contexto local.
Os projetos que vamos tratar são edifícios residenciais, construídos em um intervalo de tempo de aproximadamente um ano. São eles:
– Edifício Van Gogh (1975), localizado na Rua Fernando Amaro 650, Alto da Rua XV;
– Edifício Dom João VI (1976), localizado na Rua Vicente Machado 1187, Centro;
– Edifício Anhanguera (1976), localizado na Travessa Lange 53, Água Verde;
A intenção desse texto, é abordar a ideia de que na arquitetura, um projeto pode ser o ensaio de um próximo, podendo ter soluções aprimoradas, mas que podemos considerar com o distanciamento temporal, como uma linguagem arquitetônica de determinado/s autor/es.
Nos três projetos, os edifícios estão inseridos em lotes urbanos com dimensões limitadas. Com isso, eles têm uma estratégia de implantação semelhante, de forma longitudinal ao terreno. Com dois apartamentos idênticos e um núcleo de circulação vertical no centro da torre, obtendo um apartamento voltado para a rua e outro para os fundos. Portanto, as unidades têm proporções adequadas para os ambientes internos e ventilação cruzada. Além disso, os projetos priorizam a insolação norte e leste para salas e dormitórios, quanto as áreas úmidas e de circulação são voltadas à sul e oeste.
Pode se ressaltar a preocupação dos arquitetos no diálogo com a cidade, a identificação dos edifícios ora é feita por um totem, ora é feita com uma grafia que faz parte da arquitetura. E pela gentileza urbana de seus acessos de pedestres, seja por praças abertas, floreiras e pela forma que as torres tocam o chão.
Em seguida, podemos observar o tratamento dado a estética dos edifícios. Para começar, os arquitetos consideraram uma estratégia em comum, com os elementos estruturais em concreto armado aparente externalizados nas fachadas das torres. No Ed. Van Gogh, a estrutura é modular e possui os mesmos vãos entre pilares, seus volumes curvos de sacada estão alternados de um pavimento para outro nas fachadas laterais. Já no Ed. Dom João VI, a estrutura tem vãos alternados, não possui os volumes das sacadas e o revestimento dos peitoris e empenas em azulejo branco e laranja. Assim como o seu “filho”, o Ed. Anhanguera, mas que nesse caso os azulejos são avermelhados. Em todos, pode se notar o uso do mesmo modelo de venezianas para o controle da insolação nos dormitórios e de elementos vazados em concreto nas janelas de banheiros.
Por fim, é importante constatar o excelente estado de conservação dos projetos originais. Segundo Ricardo, isso se deve de certa forma a satisfação dos moradores com os edifícios, considerando que sempre estiveram bem ocupados e ao cuidado em intervir nos mesmos. Portanto, é interessante o olhar para essa arquitetura com mais de 40 anos produzida na cidade por arquitetos com formação local e que seus projetos de linguagem expressiva até hoje bem atendem seus usuários e despertam o olhar de quem os observa na paisagem urbana.
Fotografias: Felipe Sanquetta
2 comments
Edifícios de Habitação Coletiva, ícones da Arquitetura Moderna de Curitiba e muito bem inseridos na paisagem urbana. Tratamento de fachadas marcante e diferenciado dos demais edifícios da época.
Obrigado pelo comentário Ariel.