A arte é inerente ao ser humano. Nos expressamos de forma artística desde nossos traços mais ancestrais, nas paredes das cavernas.
Atravessando a malha do tempo, chegamos na década dos anos de 1960, onde surge o termo Site Specific – ou “Sítio Específico” como preferir – que é o termo que define obras concebidas para um lugar específico e com elementos que dialogam com o meio circundante – incorporando-o à obra e o transformando, seja esse espaço uma galeria ou a cidade – com o propósito da tendência contemporânea de se voltar não somente para a obra, mas também para o espaço. Como foi o caso da exposição Luz do Mundo, no Museu Oscar Niemeyer, da Bienal Internacional de Curitiba em 2015.
Nesse contexto, vamos tratar como a arquitetura se manifesta como espaço de exposição e, vez ou outra, como a própria tela. Na cidade, quando um espaço se sobressai, ao passo de ser identificado por suas características e nome próprio, houve uma conexão entre esse espaço e seu usuário, que o reconhece e o diferencia entre tantos outros. É dessa forma que os espaços se tornam lugares.
A galeria moderna, em suas paredes imaculadamente brancas e iluminação homeopaticamente dosada, é um espaço tão rigoroso quanto asséptico. A estratificação do espaço expositivo das galerias faz com que muitas vezes as obras de arte pareçam alheias às pessoas, suas vicissitudes e a pátina do tempo. Fora do alvo espaço das galerias, a arte transforma o espaço caótico das cidades.
Exposição “Não está claro até que a noite caia” – Artista: Juliana Stein – MON – Foto: Vinícius Moscato Exposição “Los Carpinteiros” – Artistas: Marco Castillo e Dagoberto Rodríguez – MON – Foto: Vinícius Moscato
Exposição “Minutos antes de acordar” – Artista: Yasmin Guimarães. – Galeria SIM Exposição “Minutos antes de acordar” – Artista: Yasmin Guimarães. – Galeria SIM
Os limites entre arte e arquitetura tornam-se difusos à medida que o espaço físico se torna o protagonista da relação entre ambas. As obras se desprendem das paredes das galerias e se penduram em empenas e fachadas de prédios.
Como podemos observar na obra “Alegoria ao Paraná”, do artista Poty Lazzarotto, que compõe a fachada do Palácio Iguaçu, projeto de 1954 do engenheiro e arquiteto David Xavier de Azambuja, com elementos artísticos que, segundo relato do próprio Poty, traçam a história dos primeiros habitantes, índios, tropeiros e o desembarque dos imigrantes.
“Alegoria ao Paraná”, do Artista: Poty Lazzarotto – Palácio Iguaçu – Foto: Washington Takeuchi
As obras que exploram esse hibridismo nos fazem questionar a arte, a arquitetura e a cidade e o vínculo com seus observadores, proporcionando diálogos mais democráticos do que a apreciação passiva da observação em museus. Modificam, causam reflexões e enriquecem o espaço a sua volta.
Referências:
TASCA, E.T. A relação entre arquitetura e arte: a arquitetura como suporte para arte. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Artes Hibridas)- Universidade Tecnológica Federal do Paraná. Curitiba,2019.
BEZERRA, A. L. F. ; MUSIAL, Isis . Os painéis escultóricos em concreto aparente de edifícios modernistas e Curitiba das décadas de 60 e 70.. In: II Simpósio ICOMOS BRASIL, 2018, Belo Horizonte. Anais do II Simpósio Científico 2018 – ICOMOS BRASIL, 2018. v. II. p. 1123-1133.
O’Doherty, B., 2010. Inside The White Cube. Berkeley: University of California Press.
www.archdaily.com.br/br/926347/como-o-espaco-transforma-a-arte-instalacoes-site-specific
www.millarch.org/artigo/o-poty-fala-no-video-que-documenta-o-seu-novo-mural