O GRÃO-MESTRE
O Edifício Acácia, situado na Praça Zacarias, é um dos mais emblemáticos prédios de Curitiba. O jornal Diário da Tarde o considerava “um novo marco da construção civil”, enquanto o Diário do Paraná a ele se referia como “magnífico empreendimento”. “Expressão máxima de conforto para sua família” foi uma entre as diferentes frases usadas para promovê-lo nos anúncios da época.
O edifício que hoje pode ser considerado ultrapassado por alguns, de fato, representou naquele momento um acontecimento notável. O projeto foi desenvolvido pela MAPI S.A., empresa responsável pelo icônico edifício modernista Caiobá, construído na cidade de mesmo nome no litoral paranaense, e que durante anos ficou conhecido como “Edifício MAPI”.
Para a construção do Edifício Acácia foi contratada a Companhia Construtora do Paraná. A cerimônia de lançamento da pedra fundamental do “majestoso empreendimento”, conforme o Diário do Paraná, foi realizada às 10 horas de um sábado, 24 de junho de 1961. Em junho de 1964, três anos depois, uma publicação do jornal Diário da Tarde apresenta uma foto da construção com todo “esqueleto” da estrutura finalizado. Na ocasião foi celebrada uma festa pela conclusão dessa etapa da obra daquele que se tornaria, na época, o prédio mais alto de Curitiba com 27 andares.
O projeto, amplamente divulgado ao mercado, teve suas unidades vendidas exclusivamente pela C.C.I. Cia Comercial de Imóveis. Um stand foi montado pela empresa em frente ao canteiro de obras onde funcionava diariamente, até as 22 horas, inclusive aos domingos.
O prédio foi planejado para conter dois apartamentos por andar, ambos de frente para a Praça Zacarias, cada um com três dormitórios, duas salas, banheiro, cozinha, área de serviço, quarto e banheiro de empregada. Para famílias numerosas, os anúncios sugeriam a possibilidade de unificar os apartamentos. Além disso, a qualidade dos elevadores e o salão de festas no alto do edifício com “a mais espetacular vista da cidade” eram mencionados como diferenciais.
Embora não tenha sido possível determinar, com exatidão, a data de entrega da obra, as notícias apontam para o decorrer de 1966. A partir desse ano, encontram-se informações relativas a empresas que se mudaram para o edifício, tais como o Banco América do Sul S.A. em julho de 1966, e a Rádio Cruzeiro do Sul, que se instalou no último andar do prédio em 1967. Dessa forma, presume-se que a construção do Edifício Acácia tenha durado cerca de cinco anos, de meados de 1961 a meados de 1966.
Quase uma década após sua abertura, em julho de 1975, um fato ocorrido no prédio assustou os pedestres que caminhavam no seu entorno. O letreiro luminoso da marca Phillips, posicionado no terraço do edifício, teve um dos seus suportes rompidos devido a uma forte tempestade acompanhada de ventania. Parte do anúncio de três toneladas e meia ficou inclinada para fora do prédio, ameaçando cair.
Os bombeiros foram acionados e deslocaram-se ao terraço onde usaram cordas para amarrar o letreiro de forma provisória. Posteriormente, isolaram a área para prevenir qualquer tipo de acidente até que os técnicos da empresa responsável pelo letreiro resolvessem o problema.
Porém, talvez o mais interessante sobre o Edifício Acácia seja a sua íntima relação com a Maçonaria.
Inicialmente, no terreno onde foi construído funcionava o mercado público de Curitiba. Após a mudança do mercado, o local tornou-se a primeira sede do Museu Paranaense, inaugurado em 25 de setembro de 1876, por iniciativa de Agostinho Ermelino de Leão e José Cândido Murici, com apoio do então presidente da província do Paraná, Adolpho Lamenha Lins.
Em 1882, o Museu se transformaria em órgão oficial, fato que resultou na transferência da propriedade ao governo da província. Anos mais tarde, em 1889, o governo abriu uma concorrência para venda do imóvel, vindo a aceitar a proposta realizada pela Loja maçônica Fraternidade Paranaense. Na proposta, além de pagar pelo edifício, a Loja comprometia-se a reservar parte dele para criar e manter uma escola pública.
No dia 7 de setembro de 1899, o novo templo da Loja Fraternidade Paranaense era solenemente inaugurado. Essa cerimônia contou com a presença de representantes de todas as lojas maçônicas do Estado.
A Escola foi denominada José Carvalho, em homenagem a um dos membros da Fraternidade, e teve como diretor o professor Alfredo Alves. De início, contou com 40 alunos matriculados que tinham aulas no período noturno, de forma gratuita.
Em 1919 o templo passou por uma ampla reforma, passando a ter uma presença arquitetônica imponente. Foi nessa ocasião que uma simbólica águia de duas cabeças foi instalada no topo da Loja. Em 1947, a Fraternidade Paranaense fundiu-se com a Loja Dario Vellozo n° 1213 que passou a ser proprietária do templo.
Finalmente, no início dos anos 60, a histórica Loja é demolida e o local usado para construção do Edifício Acácia, que não por acaso foi nomeado dessa forma. Acácia é o nome dado a uma série de árvores e arbustos que, assim como a águia bicéfala, fazem parte da simbologia maçônica.
Ao pesquisar sobre o significado de cada um desses símbolos, encontram-se as mais variadas teorias. Em alguns casos, a águia de duas cabeças é vinculada ao Império Romano, que governou o Ocidente e o Oriente, de modo que as duas cabeças, cada uma olhando para um lado, representariam o alcance do poder imperial. Enquanto a Acácia é relacionada desde conceitos como clareza e segurança até a ideia de imortalidade da alma.
Atualmente, o bloco de quatro pavimentos que se coloca à frente da torre de 27 andares é a sede de nove lojas maçônicas, inclusive a Dario Vellozo.
Apesar da demolição da antiga Loja em 1960, a águia de duas cabeças foi cuidadosamente preservada. Pousada em um vão na marquise entre o Edifício Acácia e o prédio vizinho, ainda hoje ela observa, silenciosamente, a todos que caminham pela Praça Zacarias.
Abaixo, fotos internas da cobertura do edifício:
Fotos por Guilherme da Costa.
Ficha Técnica
- Nome: Edifício Acácia
- Ano de construção: 1961 ~ 1966
- Endereço: Praça Zacarias, nº 46, Centro
- Arquiteto: desconhecido
- Tipologia: Misto residencial e comercial
- Andares: 27
- Unidades: 74 apartamentos e duas lojas comerciais no térreo
- Acessos: 1
- Detalhes: escultura de uma águia de duas cabeças posicionada na marquise
Fontes
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