Início » PRÉDIOS » Entre cheios e vazios: Edifício Springfield

Entre cheios e vazios: Edifício Springfield

por Felipe Sanquetta

O texto a seguir foi produzido a quatro mãos por Giovanna Renzetti e Felipe Sanquetta

A década de 1970 foi um momento de grandes transições na arquitetura moderna brasileira, em que as grandes estruturas pré-fabricadas e o apelo à industrialização nos projetos estavam cada vez mais presentes. Fato esse que também se manifestou em Curitiba, porém em um ritmo diferente. Os anos 1970 também foram de mudanças para os sócios do escritório Forte & Gandolfi, os quais encerraram suas atividades em conjunto no ano de 1973. Assim, Luiz Forte Netto e os irmãos José Maria e Roberto Gandolfi seguiram caminhos diferentes, mas sempre exercendo a atividade do projeto.

Neste texto, em específico, destaca-se a continuação da trajetória do arquiteto Forte Netto após o fim da sociedade com seus colegas paulistas. Uma nova fase se iniciava em sua carreira, da qual fazia parte os arquitetos Orlando e Dilva Busarello, os quais foram estagiários do escritório Forte e Gandolfi, bem como alunos do CAU UFPR e, após o rompimento da sociedade, se tornaram sócios de Luiz Forte Netto.

Chama-se a atenção para essa nova fase do paulista em que seus sócios eram paranaenses, e acima disso, foram seus alunos. Sendo assim, Dilva e Orlando absorveram os ensinamentos pragmáticos da arquitetura do concreto aparente, tendo como embasamento os projetos que acompanharam enquanto estagiários e alunos.

Por conseguinte, quando projetando em conjunto, suas ideias estavam alinhadas e diversos projetos do trio foram tomando forma na paisagem curitibana. Alguns desses sendo edifícios residenciais, como é o caso do prédio deste texto: o Edifício Springfield. Localizado em bairro nobre curitibano, na Alameda Dom Pedro II, 385, a construção de 10.330m² foi concluída em 1975.

Ressalta-se a importância da atuação desses profissionais para a disseminação da arquitetura moderna e pós-moderna não só em Curitiba, mas em todo estado. O objetivo deste texto, então, concentra-se em ressaltar personagens da história do desenvolvimento da capital paranaense a partir da arquitetura produzida.

Por se tratar de um edifício de alto padrão, o Springfield se caracteriza pela sua inserção em generosa área arborizada, além de sua sofisticação e pelo uso de tecnologias construtivas de ponta da época, sendo sua construção realmente um marco para a cidade.

Implantada sob um embasamento em pedra onde está a garagem de carros, a torre de apartamentos tem seu acesso social que se dá por uma praça interna pelo térreo, onde estão localizadas as áreas comuns envidraçadas de piso ao teto com fechamentos em panos de vidro sem caixilho, o que torna a conexão visual com o exterior ainda maior. A volumetria da torre é complementada por um segundo núcleo de circulação vertical de serviço e a escada de emergência.

Concebido totalmente em concreto armado, tem uma modulação estrutural de 15 pilares em cruz com seus vãos dispostos na proporção de 3×5 e distantes 7m em eixo. Sobre o desenho dos pilares, além de atender o efeito de punção das lajes, tem seus cantos utilizados como passagem de instalações, com um fechamento de uma peça arredondada em acrílico preto. Entre os apartamentos, as lajes caixão perdido com 50cm de espaçamento e as esquadrias moduláveis que ocupam todo o vão entre pilares, dão total liberdade para a ocupação e alteração da planta, já que se pode alterar posição de instalações e conectar ou subdividir ambientes pelo módulo da fachada.

O projeto original previa uma planta organizada com o elevador social localizado em seu centro e com uma ocupação livre ao seu redor. Áreas sociais localizadas à sul com insolação à leste e oeste, quartos à norte e áreas de serviço à oeste. Com os banheiros originalmente desenhados com suas paredes arredondadas, geravam um apartamento de planta com 4 suítes, mas com poucas áreas de circulação. Eram também previstas duas paredes curvas soltas na planta da área social que conformavam a sala de jantar e um escritório.

Um aspecto marcante desse projeto é a composição gerada a partir da alternância das varandas entre pavimentos, o que gera uma bela volumetria do conjunto, mas também privacidade entre as unidades e uma ampla espacialidade, já que esses terraços possuem altura dupla.

No início desse ano, tivemos a oportunidade de cuidadosamente visitar dois apartamentos no Springfield. Sendo uma das unidades localizada no primeiro andar, com uma atmosfera muito próxima a de uma casa, vista para a copa das árvores dos jardins do condomínio e do entorno. Além disso, este apartamento e o último, localizado na cobertura possuem uma particularidade em relação aos demais, que é de que seus terraços são contínuos. Já o outro apartamento está no décimo sétimo pavimento, portanto um andar bem mais alto, onde se tem uma vista de panorâmica para a cidade.

Agradecemos enormemente aos proprietários que gentilmente permitiram a nossa visita aos apartamentos. Especialmente a Ana Sofia e sua mãe, a artista Angela Lima, que é moradora da unidade no primeiro andar e que além de nos receberem, compartilharam belas histórias vividas no Springfield. Em seu apartamento, que é um dos que manteve as características originais do projeto, têm um espaço dedicado ao seu ateliê.

Fontes:

BERRIEL, Andrea.; SUZUKI, Juliana. Memória do Arquiteto: Pioneiros da
Arquitetura e do Urbanismo no Paraná.
2. ed. Curitiba: Editora UFPR, 2012. v. 1
XAVIER, Alberto. Arquitetura Moderna em Curitiba. Pini Editora. São Paulo, 1985.

Fotografias:

Mayra Abalem
Pedro Pilati

Vinicius Moscato

ARTIGOS RELACIONADOS

Leave a Comment

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.