Me propus a escrever para esse site um texto periódico falando de escola e cidade.
Mais precisamente a ideia seria traçar conexões textuais entre aquilo que pensamos nas escolas de arquitetura e aquilo que materializamos na cidade construída.
De fato, o momento atual é peculiar para discutir isso. Na realidade, hoje temos enfraquecidas, pela presença da pandemia em nossas vidas, as possibilidades de usufruir dos espaços tanto da escola quanto da cidade.
Mas o que isso significa? Estarmos um pouco ausentes do espaço real e dos lugares do nosso cotidiano nos coloca qual perspectiva?
Por um lado, sentimos falta dos espaços públicos, dos lugares ao ar livre, daquilo que é externo ao nosso lugar de residência. Por outro, nunca estivemos tão virtualmente conectados através das plataformas de videoconferência online, a ponto de chegarmos à exaustão. Seja para encontrar a família, amigos ou no trabalho em casa, tentamos continuamente estabelecer esses laços com quem nos relacionamos. E tenho a impressão que continuamos curiosos a respeito do mundo, mas sabemos que os encontros virtuais do isolamento social são interações atenuantes, e não as respostas que buscamos.
Nesse contexto de desencontros online, é frequente e desconfortável ouvir as pessoas que estudam o campo da arquitetura e urbanismo se transformarem, muitas vezes a contragosto, em futurólogos. Todos elaboram e querem respostas para questões assim: como vai ser a cidade pós-pandemia, como vamos nos relacionar no pós-pandemia, como serão as casas e apartamentos no pós-pandemia.
Às vezes o olhar perdido do arquiteto entrevistado quando vem essa pergunta, revela que o perigo ambíguo da onipotência e da impotência trazidos por Rem Koohaas quando fala da nossa profissão. Por que afinal estão nos perguntando isso? É verdade que somos os profissionais do planejamento, tudo bem, mas isso de adivinhar o futuro, quando ainda estamos atordoados lidando com o presente, é pedir demais.
Por enquanto estamos preocupados – aliás, como todo mundo – em lavar a louça que sujamos e chegarmos ilesos em casa, depois de uma ida ao supermercado. Continuamos projetando e nossas mentes estão ativas, mas tentamos manter os pés na realidade, que é bem complexa, por sinal.
Entender a arquitetura e a cidade, resultado dessas transformações da vida social, vai ser também nossa atribuição. Mas essa vontade de entender os possíveis desdobramentos da crise será realizada, possivelmente, através de uma reflexão lenta.
Na realidade, como sempre, estamos completamente às cegas, e isso de fazer previsões parece ser um exercício fadado ao fracasso. Deveríamos estar mais presentes nas questões atuais, pois elas é que vão evoluir para um futuro, sempre incerto. No fundo, ninguém tem respostas coerentes para esses problemas, estamos muito embrenhados no isolamento social para percebermos para onde vamos e o tempo vai nos trazer essas reflexões pouco a pouco, caso estejamos atentos e ativos.
Não são só as pandemias, mas tudo que tem sido trazido ao debate: a política, os abismos sociais, as desigualdades, entre uma série de questões centrais para a sociedade. Temos muito que mudar antes de entendermos a cidade e a arquitetura do futuro.
E não há respostas, só uma grande luta pela frente.