Enquanto ainda estamos procurando respeitar as medidas de isolamento social para evitar aglomerações, nos conforta lembrar de bons exemplos de espaços e edifícios culturais que costumávamos frequentar. É interessante que alguns deles não somente estão localizados em esquinas, mas praticamente são a própria esquina.
Independente se públicos ou privados, eles trazem em maior ou menor proporção alguns aspectos interessantes como a democratização do espaço público, acesso as artes, conformam espaços de encontro e convívio, além de gerar vitalidade em diversas horas do dia em diferentes dias da semana, recuperando desta forma, seu entorno imediato.
Cronologicamente iniciamos pelo Palácio Avenida, localizado no calçadão da Rua XV de Novembro esquina com a Travessa Oliveira Bello. O projeto de Valentim Freitas, Bernardino Assumpção Oliveira e Bortolo Bergonse data o ano de 1929, porém passou por uma revitalização em 1985, um dos últimos projetos de Rubens Meister. O edifício se torna um grande palco e recebe durante o período das festividades natalinas apresentações do coral de crianças que acaba reunindo milhares de espectadores.
Em seguida lembramos do Cinepasseio, sua inauguração foi de importante significado para a cidade, recuperando a memória dos antigos cinemas de rua. Localizado na Rua Riachuelo, esquina com a Rua Presidente Carlos Cavalcanti, a edificação original com traços Art Deco dos anos 1930 teve seu projeto de recuperação em 2013 com a finalização da obra em 2019.
O projeto é de autoria dos arquitetos Mauro Magnabosco e Dóris Teixeira, do IPPUC. Além das salas de projeção, a obra conta com espaços para eventos, um coworking público e um terraço ao ar livre em sua cobertura.
Outro projeto relevante culturalmente é a recuperação da Fábrica de fitas Venske, hoje em dia conhecido como A Fábrika. Localizado na Rua Ubaldino Amaral, esquina com a Rua Comendador Macedo, o conjunto original de 1938, recebeu a partir dos anos 1980 uma série de intervenções arquitetônicas que deram forma ao centro cultural. Dos exemplos que trazemos aqui, devido as suas proporções esse talvez seja o que se extrapola a noção de esquina e acaba conformando uma cidadela cultural. Atualmente abriga os institutos Goethe, Cervantes, Aliança Francesa, Centro de Cultura italiana, além de um museu da antiga fábrica e empresas públicas e privadas.
O próximo projeto talvez fique um pouco à sombra de um edifício ainda maior o qual está acoplado, o pequeno auditório do Teatro Guaíra, mais conhecido como Guairínha.
O projeto foi elaborado pelo arquiteto Rubens Meister em 1952, e também foi a primeira parte do conjunto a ser inaugurada, fazendo parte do conjunto de obras do centenário de emancipação política do Estado. Localizado na Rua XV de Novembro, esquina com a Rua Tibagi, estabelece uma relação distinta em relação ao grande auditório que se comunica com a Praça Santos Andrade. O edifício pela sua menor escala cria uma outra atmosfera, bastante adequada para eventos de pequeno porte.
Também localizado no centro da cidade, o Centro Comercial Italia (1975) é um dos bons exemplos de projetos com esse uso que estabelecem uma boa relação com a urbe, sem a necessidade de criar barreiras. Localizado na Avenida Marechal Deodoro, esquina com a Rua João Negrão, o projeto do arquiteto Roberto Martins de Abuquerque conta com um embasamento onde está o Shopping e uma torre de escritórios. O tratamento dado ao térreo recuado em relação aos dois pavimentos de sobreloja, gera uma grande marquise que recebe a quatro décadas um movimento de dança de rua que se encontra para praticar semanalmente.
Por fim, trazemos outro projeto que já abordamos aqui no Prédios e que foi o grande condutor para esse texto, que é o projeto do Sesc da Esquina (1980) de Rubens Meister. Localizado no cruzamento da Rua Visconde do Rio Branco com a Augusto Stellfeld, percebemos que tanto o edifício recuado estabelece uma interessante relação com a rua quanto o bloco do Teatro que acaba por trazer vitalidade tanto para os dias quanto para as noites em que se é utilizado.
Fontes:
GNOATO, Luís Salvador. Arquitetura do Movimento Moderno em Curitiba. Curitiba, 2009.
XAVIER, Alberto. Arquitetura Moderna em Curitiba. Pini Editora. São Paulo, 1986.
Fotografias:
Bem Paraná
Bradesco
Circulando por Curitiba
Gazeta do Povo
Tribuna do Paraná
SESC Paraná
Washington Takeuchi