Os mobiliários urbanos são elementos complementares a infraestrutura da cidade, seu objetivo é ser colocado a serviço da população, para que esta possa usufruir da melhor forma a concepção do espaço urbano. Estes objetos são pontos de ônibus, bancas de jornal, bancos, lixeiras, floreiras, luminárias, placas informativas, entre outros.
A estética desses mobiliários varia de acordo com o aspecto histórico, cultural e também de gestão de cada cidade, assim como os materiais e as tecnologias empregadas. Além de cumprir a necessidade de integração e pertencimento ao meio urbano, é necessário que estes elementos possuam um design funcional e ergonômico, que possuam boa durabilidade, e ainda, que sejam acessíveis a todos os habitantes.
O projeto de criação destes elementos deve levar em consideração a entrega de um produto com qualidade que irá caracterizar a imagem da cidade, deve-se analisar e observar para quem estes objetos serão projetados e se irão atender as necessidades da comunidade específica de cada região. São complementos da organização do espaço urbano, podendo criar caminhos de pedestres, áreas de descanso e permanência, barreiras que possam fornecer segurança em passagens e prover iluminação noturna.
Os itens se adaptam de acordo com o desenvolvimento social e tecnológico de cada cidade, o orelhão, por exemplo, passou a ser um elemento pouco visto na cidade de Curitiba, devido a sua inutilização nos últimos anos. No entanto, novos produtos começaram a ser cada vez mais empregados, como os bicicletários e os painéis publicitários.
Em Curitiba há a existência de duas propostas de mobiliários urbanos, uma linha que caracteriza a passagem pela rua XV de Novembro, a qual teve sua paisagem urbana tombada como patrimônio cultural; os equipamentos urbanos neste caso fazem com que esta rua seja única no imaginário social dos habitantes da cidade e de quem as visita. Estes elementos ainda se repetem por diversas áreas do centro da cidade, são compostos em madeira e ferro, trazem aspectos orgânicos e compõem o ambiente formando grupos de produtos, utilizando floreiras, lixeiras e bancos em conjunto. Na mesma época surgiu um dos mobiliários mais icônicos, o ponto de ônibus Domus, criação do arquiteto Abraão Assad na década de 1970 e vinte anos depois há o surgimento das Estações Tubo, desenvolvidas pelo mesmo arquiteto.
A outra linha de equipamentos, utilizada a partir da década de 90 é um projeto criado pelo arquiteto Manoel Coelho, os mobiliários seguem um conceito elaborado a partir da figura da araucária e o seu fruto, o pinhão. As suas formas serviram de inspiração para a criação dos pontos de ônibus, principalmente.
Apesar da importância do processo de toda a concepção estética e histórica dos mobiliários. A análise de fato a ser feita, é se esses elementos estão cumprindo a sua função e seu objetivo principal, que cabe ser reforçado: servir a população. Muitos equipamentos acabam por serem projetados e executados de forma a inibirem o uso por pessoas em situação de vulnerabilidade social, como os moradores de rua. Mostram-se agressivos e impedem com que estas pessoas os utilizem da forma que considerarem mais adequada, este processo higienista da abordagem geral de concepção do espaço urbano transforma o ambiente em um local não acessível e de certa forma, não igualitário.
Este processo pode ser nomeado de arquitetura hostil, a partir do momento que o urbano se torna excludente e deixa de acolher todas as pessoas, quando grupos passam a não ser bem-vindos, a cidade deixa de cumprir o seu papel e função como um todo. O espaço urbano se torna contra estas pessoas quando o projeto dos mobiliários apresenta propostas não ergonômicas, dimensões menores do que o adequado, estruturas rígidas e divisórias que claramente se apresentam como uma forma de impedir que se deite em bancos públicos.
Desta forma, os equipamentos urbanos já perderam o seu objetivo e função, além de serem agressivos com esta população, tornam o meio urbano cada vez menos empático e inclusivo, ainda, acaba por incentivar que medidas similares em outros âmbitos da arquitetura sejam tomadas, como a execução de gradis embaixo de marquises, espetos metálicos em vãos de esquadrias e várias outras manobras criadas para impedir a permanência de moradores de rua em qualquer área da cidade, a qual eles queiram ocupar.
Os efeitos desumanizadores desses gestos hostis afetam a todos, agindo como manifestações físicas da intolerância da sociedade e tornando o espaço público menos acolhedor para todos nós, moradores de rua ou não. Em Curitiba temos alguns exemplos do emprego desta arquitetura, no Shopping Estação, todos os vãos de esquadrias da fachada do Museu Ferroviário possuem uma instalação metálica que impede com que qualquer pessoa faça daquele espaço um apoio, assim como outros comércios, inclusive da Rua XV de Novembro que utilizam meios de que moradores de rua não se abriguem nesses espaços embaixo das marquises.
Outra situação vivenciada na cidade foi a interferência da Prefeitura, utilizando diversas floreiras para preencher o espaço de vazio urbano embaixo do Viaduto do Capanema, próximo a Rodoferroviária, esta questão do não lugar pode ser melhor compreendida em outro texto já publicado aqui. Os elementos foram utilizados de forma a prejudicar a ocupação de moradores de rua e vendedores ambulantes que estavam neste local.
Fonte: Gazeta do Povo
Sendo assim, é necessário que os mobiliários urbanos sejam ergonômicos e acessíveis, que o seu design não remeta a uma solução bruta e agressiva, isto faz parte de uma estética de fortaleza, a qual já foi ultrapassada e não é nem um pouco bem vinda nas comunidades onde o urbano tem que ser inclusivo. Não pode ser um ataque à população em vulnerabilidade social, refletindo que a cidade não é pertencente a eles, deve-se utilizar do design e da arquitetura de forma a reduzir os comportamentos antissociais. A democracia deve ser visível, ainda mais quando se parte de objetos utilizados pela gestão das cidades, isto faz com que não haja o incentivo de que hostilizar outras pessoas seja uma atitude comum e aceitável.
Fontes:
JOHN, Naiana; REIS, Antonio T. Percepção, estética e uso do mobiliário urbano. Vol. 5, n 2.Novembro, 2010.