Ayrton João Cornelsen, conhecido como “Lolô”, foi um dos grandes nomes do ciclo dos arquitetos-engenheiros em Curitiba. Atuou entre as décadas de 1940 e 1960, no entanto, o reconhecimento de sua produção só viria mais tarde, com a virada do século XX. Pode-se afirmar que as obras de Lolô foram predecessoras ao movimento moderno em Curitiba, assim, enfatiza-se seu pioneirismo e importância para o ideário da arquitetura moderna curitibana.
Comentando sobre a biografia de Lolô a fim de compreender os caminhos que o levaram a realizar o projeto da residência Belotti e seu pioneirismo arquitetônico, ressalta-se sua naturalidade curitibana e a matrícula no curso de engenharia civil da Universidade Federal do Paraná em 1963. Um fato curioso sobre a trajetória de Cornelsen é que logo que ingressou na universidade passou a estagiar na Prefeitura de Curitiba, na mesma época em que o urbanista Alfred Agache desenvolvia o novo plano urbano para a capital.
Assim, desenvolveu uma boa relação com Agache, o qual insistiu para que fosse estudar arquitetura no Rio de Janeiro, e deu de presente ao jovem estudante um livro com imagens das obras de Le Corbusier. A partir desse momento, Lolô entra em contato com os princípios da arquitetura moderna, bem como com a produção de Lucio Costa e da escola carioca, por ter concluído sua graduação no Rio de Janeiro. Como resultado, passa a projetar uma série de projetos, dos mais diversos programas, sob a ótica da arquitetura moderna, sendo a Residência Belotti, de 1953, um desses exemplares.
Naquela época, a paisagem que predominava em Curitiba era das fachadas ecléticas e art déco, não havia espaço, ainda, para casas modernas. À vista disso, o projeto encomendado pelos Belotti causou estranhamento por parte da população local. Isso se deve à racionalização da construção, ao térreo livre sob pilotis e às janelas em fita da fachada frontal, que eram possíveis ser visto pelos passantes. A obra se concebia em dois volumes retangulares, de diferentes dimensões, desencontrados e que definiam os dois pavimentos. Mas as renovações de Lolô iam muito além disso e se estendiam até o interior da residência, na nova forma de elaboração do programa arquitetônico.
No interior da residência buscou pela integração dos ambientes, realizando uma comunicação entre os setores de estar e social. Configurou a casa em dois pavimentos, e no superior locou os ambientes íntimos. Outra característica fundamental do pioneirismo de Lolô foi o emprego de mezanino como circulação entre os quartos, atributo inovador para a época, dando continuidade visual aos espaços. Como também o fato de encarar as particularidades climáticas e físicas como condicionantes projetuais, adaptando o projeto ao clima da cidade, além do emprego de soluções estruturais modernas.
Fonte: Micheline, Oliveira, 2017
Varanda e Jardim Escada que dá acesso ao mezanino Detalhe do mezanino Foto da garagem da residência Detalhes da garagem da residência
A conhecida fachada vermelha da casa foi elaborada com madeiras tingidas da cor, que em conjunto com as janelas brancas em fita e com os pilotis, chamavam a atenção de quem passava pela Rua Dr. Faivre .Com o passar dos anos a residência teve outros dois donos, os quais realizaram algumas alterações ao programa original, inclusive, em alguns estudo, a casa Belotti é referida como Casa Romário Pacheco, seu último dono antes da restauração do projeto.
Foto: Alessandra Moretti Foto: Alessandra Moretti
O restauro teve duração de dois anos, sendo finalizado em 2014. Lolô Cornelsen acompanhou todo o processo, e a construção acabou tendo fins comerciais. O projeto foi definido como arquétipo modernista na cidade de Curitiba, ressaltando a importância do papel de Lolô para a arquitetura moderna do Paraná.
Ayrton Lolô Cornelsen morreu aos 97 anos.
FONTES:
CAVALIERI, Marcia. A Arquitetura de Ayrton ‘Lolô’ Cornelsen e Seu Mundo Modernista Fora do Brasil. 11 SEMINÁRIO DOCOMOMO_BR. O campo ampliado do movimento moderno. 17-22. Abr 2016. Recife.
GNOATO, Luis Salvador. Arquitetura do movimento moderno em Curitiba. Curitiba:Travessa dos Editores, 2009.
MICHELINE, Marcos, OLIVEIRA, Pablo. AYrton “lolô” cornelsen e a “residência belotti”:
exemplares da arquitetura moderna no paraná. I CONGRESSO NACIONAL PARA SALVAGUARDA DO PATRIMÔNIO CULTURAL. Fronteiras do patrimônio: preservação como fortalecimento das identidades e da democracia. 03-07. Out 2017. – Cuiabá.