“…não descendemos de relojoeiros, mas de fabricantes de igrejas barrocas;”
Lúcio Costa (1953)
Esta foi a reação do arquiteto Lúcio Costa à afirmação feita pelo artista plástico suíço Max Bill, em que critica o suposto excesso de ornamentação da arquitetura moderna brasileira, onde segundo ele, a arquitetura brasileira padecia nesse amor ao inútil, sofrendo de um barroquismo exacerbado.
A arquitetura moderna em Curitiba, se desenvolveu de forma tardia, se compararmos a outras cidades do Brasil, como São Paulo e Rio de Janeiro, tendo seu principal recorte temporal entre os anos de 1950 e 1970. Foi durante a década de 1960 onde ocorreram as mudanças mais significativas no cenário da produção arquitetônica curitibana, muito por conta da criação do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFPR, o primeiro do Paraná em 1962. Neste contexto, o brutalismo e o modernismo ganharam espaço em Curitiba.
Edifício Sede EMATER, 1979 – Arquitetos: Luiz Forte Netto, Orlando Busarello e Dilva Busarello
Grande parte dos edifícios desse período fez uso do concreto aparente como principal elemento do projeto, e as formas de madeira empregadas para a execução dessas empenas, imprimiram seus veios e imperfeições nas faces das edificações, essa plasticidade do concreto seguiu sendo explorada em composições de painéis em baixo relevo das mais variadas temáticas.
O emprego desses painéis escultóricos em concreto fortalece o elo entre arte e a arquitetura desses edifícios e os relaciona com movimentos artísticos relevantes, tais como o neo-concretismo.
O artista plástico curitibano Poty Lazarotto, conhecido por seus trabalhos importantes como muralista, trabalhou junto com os arquitetos em suas obras desenvolvendo painéis e murais exclusivos para determinado edifício, como é o caso do painel que se encontra no gramado em frente ao Edifício Michelangelo Buonarotti, projeto de 1986 dos arquitetos José Maria e Roberto Gandolfi.
Edifício Michelangelo Buonarotti, 1986 – Painel de Poty Lazzarotto
Empregando uma composição modular geométrica que se replica em diferentes posições trabalhadas em baixo relevo de concreto, que se repete nas duas empenas de 18 pavimentos do edifício, o artista plástico Abraão Assad concebeu os painéis para o Palácio das Telecomunicações do arquiteto Lubomir Ficinski em 1968, como uma solução plástica para suavizar a aridez das grandes empenas.
Palácio das Telecomunicações Presidente Arthur da Costa e Silva, Painel de Abraão Assad Palácio das Telecomunicações Presidente Arthur da Costa e Silva, Painel de Abraão Assad Palácio das Telecomunicações Presidente Arthur da Costa e Silva, Painel de Abraão Assad
Fotografias: Washington Takeuchi
Fontes:
BEZERRA, A. L. F. ; MUSIAL, Isis . Os painéis escultóricos em concreto aparente de edifícios modernistas e Curitiba das décadas de 60 e 70.. In: II Simpósio ICOMOS BRASIL, 2018, Belo Horizonte. Anais do II Simpósio Científico 2018 – ICOMOS BRASIL, 2018. v. II. p. 1123-1133
CASTRO, C. Ornamento sem delito: a plasticidade das superfícies de concreto armado na arquitetura brutalista curitibana. In: X Docomomo Brasil Arquitetura Moderna e Internacional: conexões brutalistas 1955-75, 2013, CURITIBA. Porto Alegre: PROPAR – UFRGS, 2013. v. 1.