A colaboração entre os arquitetos Jaime Wasserman e Salomão Figlarz resultou em um enorme acervo de projetos habitacionais que marcam a paisagem de vários bairros em Curitiba. Com uma intensa produção entre os anos de 1970 e 1980, podemos citar alguns exemplares, entre eles: Conjunto Cosmos (1974), Parque Residencial Fazendinha (1979-1981) e o Visconde de Mauá (1979-1981), erguidos pela Construtora Independência.
Wasserman também fez projetos em colaboração com outros arquitetos, citando como exemplo o Edifício Aurora (1964) em frente a praça da Ucrânia, no qual a associação foi com Henrique Panek, e o Conjunto Independência (1968-1970). Ambos bem atendem aos seus moradores até hoje.
Se pudéssemos caracterizar esse conjunto de obras, os elementos protagonistas e recorrentes seriam: resoluções espaciais racionalizadas independentemente do tamanho dos apartamentos, apreço por modulações com adoção de uma estrutura lógica que muitas vezes é externalizada marcando a fachada, e na aplicação de elementos pré-fabricados, como as esquadrias em fita ou panos de vidro.
Neste texto, trataremos especificamente de uma obra elaborada pela coautoria de Wasserman e Figlarz, o Edifício Trianon, localizado na Alameda Dom Pedro II 818, bairro Batel, projeto do ano de 1978.
Este belo edifício é facilmente identificado pela rígida simetria e a aplicação dos azulejos na cor amarela que cobrem o parapeito das esquadrias em fita, detalhes estes que contornam ambas as fachadas, com a modulação interna disposta da seguinte forma: Na fachada principal um grande espaço social, nas laterais os dormitórios e aos fundos, além da copa e área de serviço, estão localizados também a escada e os elevadores.
O edifício de volume prismático é composto por 10 pavimentos de apartamentos, um espaço no térreo que além de ser o acesso principal também abriga as áreas comuns, e possui como embasamento a área destinada a garagem, que se encontra enterrada apenas meio nível abaixo do solo.
Este recurso utilizado no subsolo, além de ser economicamente interessante, acaba gerando um afloramento do volume destinado a esta área dando um tratamento delicado e fazendo com que haja uma soltura da laje para ventilação, consequentemente gera grande leveza.
Também é notável a composição dos jardins em diferentes níveis que formam a bela praça de acesso ao edifício.
São dois apartamentos por pavimento, cada um com aproximadamente 210m². O acesso é feito por um núcleo de circulação vertical central que dispõem os apartamentos transversalmente em relação ao terreno. A fachada do edifício é de frente à Dom Pedro II.
Quanto aos apartamentos, a organização interna é feita da seguinte forma: a distribuição se inicia pelo hall privativo, que possui abertura para um grande salão com planta em “L”, uma área de serviço de núcleo hidráulico bem definido com lavabo, cozinha disposta contra a lavanderia junto de uma pequena copa, e por fim, dá acesso a uma pequena circulação que leva aos dormitórios.
É interessante notar que mesmo sendo um empreendimento de alto padrão, os autores conseguiram aplicar soluções arquitetônicas mais ousadas. Um exemplo dessas soluções é a grande possibilidade de intervenções que a planta original gera no apartamento, podendo incorporar a área do primeiro dormitório, restando duas suítes, e adaptando assim um lavabo, coisa que não era tão usual nos projetos da época.
Outra característica marcante são as portas com dimensões maiores que as convencionais e com vedação em vidro fosco que dão acesso ao apartamento, ao salão principal, à cozinha e também à circulação destinada aos dormitórios.
Uma curiosidade é que em Curitiba existem outros edifícios homônimos, como o projeto do Jaime Lerner de 1966, localizado na Rua General Carneiro 260 e um outro que fica localizado na Rua Capitão Souza Franco 870, próximo à Padre Anchieta, o qual o autor não foi identificado.
Abaixo algumas fotos internas do edifício, registros feitos pelo fotógrafo Pedro Pilati.
Um agradecimento muito especial à Maria Inez Avallone Garcez Duarte, por nos ter concedido o acesso ao interior de seu apartamento. No apartamento em questão, o piso de madeira e os azulejos da cozinha são originais do projeto.
Fontes:
ROSA, Alexandre Ruiz da. A concepção da habitação coletiva de Jaime Wasserman e a atmosfera do espaço habitado. Dissertação (mestrado) – Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2020.
VIANNA, Fabiano Borba. Estudo e evolução do projeto de plantas de apartamentos de Curitiba: 1943-2004. Dissertação (mestrado) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2011
Fotos por Pedro Pilati
2 comments
Morei no Trianon e Continental – Padrão de projeto do Salomao é incontestável.
Obrigado pelo comentário Jose, esses dois edifícios são realmente incríveis.