No final da década de trinta, a companhia Moinhos Ingleses, então pertencente ao grupo Bunge & Born – atual Bunge –, iniciou os estudos para instalação do Moinho Paranaense Ltda no bairro Rebouças, em Curitiba.
O projeto era de interesse do governo federal, que buscava diminuir a dependência do país em relação ao trigo estrangeiro. Nesse sentido, o objetivo do Moinho era a moagem do trigo nacional, preferencialmente aquele produzido no Paraná.
Sua inauguração se deu às 11 horas da manhã de uma segunda-feira, dia 15 de janeiro de 1940, depois de aproximadamente dois anos de obras. O evento contou com a presença do interventor Manoel Ribas acompanhado de uma série de autoridades civis e militares, industriais, comerciantes, além de boa parte da imprensa.
O novo Moinho dispunha de instalações modernas para a época e todo o seu maquinário foi importado da Inglaterra. O edifício de cinco pavimentos abrigava o moinho propriamente dito, enquanto o prédio de três andares ao seu lado funcionava como armazém. Os demais edifícios cumpriam funções administrativas de apoio, tais como vestiário, oficina, carpintaria, refeitório e cozinha.
Entre as farinhas de trigo que eram produzidas, destacavam-se várias marcas: Buda Nacional, Soberana, Ivahy, Marumby e Piquiry. Posteriormente, os biscoitos Aymoré também passaram a ser produzidos no local.
Apenas seis anos depois da inauguração, em uma madrugada de maio de 1946, um incêndio atingiu o maior dos prédios da fábrica. As chamas foram prontamente combatidas pelos funcionários e pelo Corpo de Bombeiros, ainda assim, três andares foram inteiramente queimados. Notícias da época levantaram a possibilidade de o incêndio ter sido criminoso.
Apesar disso, a estrutura foi recuperada e o Moinho voltou a funcionar regularmente cumprindo papel importante no auxílio aos produtores de trigo do Paraná.
Em 1958, a fábrica foi ampliada para abrigar dois silos de armazenagem de trigo. O projeto coube a Scott Engenharia e Construções Ltda., enquanto a execução da obra foi realizada pela Construtora Iguaçu e teve como responsável técnico o engenheiro civil Estefano Mikilita. Naquele ano, a Indústria contava com 158 funcionários registrados.
O início dos anos 1960 foi marcado por uma crise no comércio e industrialização do trigo. O preço, que era tabelado, foi considerado insuficiente para o lucro pretendido pelos moageiros. As notícias da época indicam que houve dificuldade na distribuição aos panificadores curitibanos. Naquela ocasião, o Moinho continuou a fornecer suas cotas ao mercado, no entanto, de forma parcelada.
O Moinho Paranaense Ltda encerrou de vez suas atividades no início dos anos 1970. Em janeiro de 1972, toda a fábrica foi comprada pela concorrente Anaconda Industrial e Agrícola de Cereais S.A., que já possuía um moinho a um quilômetro e meio de distância, ao lado do viaduto Capanema.
Até onde se sabe, o novo proprietário não utilizou a fábrica, que acabou permanecendo fechada e sem uso por cerca de trinta anos.
Em abril de 2001 o imóvel foi transferido a um dos credores da Anaconda, que logo em seguida o vendeu para uma empresa administradora de shopping centers por um milhão de reais.
Dois anos depois, em março de 2003, a empresa optou por doar o imóvel à Prefeitura de Curitiba em troca da concessão de potencial construtivo.
Nos anos seguintes, o “Moinho Rebouças” – como ficou habitualmente conhecido –, tornou-se palco de eventos culturais esporádicos. A definição de um uso efetivo só viria em 2006, quando após reforma e investimento de R$ 500 mil, o antigo Moinho Paranaense se transformou na nova sede da Fundação Cultural de Curitiba, que lá permanece até o presente ano.
Por meio da Agência Curitiba de Desenvolvimento e Inovação S.A., desde 2017, o antigo Moinho também é a sede do programa Vale do Pinhão, iniciativa que busca potencializar a inovação ao reunir diversos atores, como universidades, fundos de investimento, secretarias municipais, incubadoras e startups.
Ficha Técnica
- Nome: Moinho Paranaense Limitada – atualmente Moinho Rebouças, sede da Fundação Cultural de Curitiba (FCC)
- Ano de construção: 1938 ~ 1940
- Endereço: Rua Engenheiro Rebouças, 1732, Rebouças, Curitiba-PR
- Tipologia: Industrial
- Detalhes: a edificação é uma Unidade de Interesse de Preservação (UIP)
Fontes
Secretaria Municipal do Urbanismo – Prefeitura Municipal de Curitiba
Cartório de Registro de Imóveis 7ª Circunscrição, Curitiba/PR.
A moagem e o consumo do trigo paranaense. Correio do Paraná, Curitiba, 6 de abril de 1939. Edição 3182, p. 2. Biblioteca Nacional/Hemeroteca Digital Brasileira (BN/HDB). http://memoria.bn.br/docreader/171395/11547
Uma iniciativa de envergadura para a indústria no Paraná. O Dia, Curitiba, 7 de janeiro de 1940. Edição 5043, p. 8. Biblioteca Nacional/Hemeroteca Digital Brasileira (BN/HDB). http://memoria.bn.br/docreader/092932/40000
Inaugurado o Moinho Paranaense. Diário da Tarde, Curitiba, 16 de janeiro de 1940. Edição 13502, p. 8. Biblioteca Nacional/Hemeroteca Digital Brasileira (BN/HDB). http://memoria.bn.br/docreader/800074/56270
Reforçando a estrutura econômica do Paraná. O Dia, Curitiba, 16 de janeiro de 1940. Edição 5050, p. 3. Biblioteca Nacional/Hemeroteca Digital Brasileira (BN/HDB). http://memoria.bn.br/docreader/092932/40039 e http://memoria.bn.br/docreader/092932/40041
Ainda mais esta! Devorado pelas chamas o Moinho Paranaense. Diário do Paraná, Curitiba, 5 de maio de 1946. Edição 166, p. 4. Biblioteca Nacional/Hemeroteca Digital Brasileira (BN/HDB). http://memoria.bn.br/docreader/171433/1319
Suspeita-se ter origem criminosa o incêndio do Moinho Paranaense! Diário da Tarde, Curitiba, 4 de maio de 1946. Edição 16046, p. 6. Biblioteca Nacional/Hemeroteca Digital Brasileira (BN/HDB). http://memoria.bn.br/docreader/800074/70724
Propaganda do Moinho Paranaense. A Divulgação, Curitiba, nov-dez de 1947. Edição 00001-00002, p. 39. Biblioteca Nacional/Hemeroteca Digital Brasileira (BN/HDB). http://memoria.bn.br/docreader/095346/239
O trigo paranaense na economia nacional. A Divulgação, Curitiba, fev-março de 1948. Edição 00003-00004, p. 26. Biblioteca Nacional/Hemeroteca Digital Brasileira (BN/HDB). http://memoria.bn.br/docreader/095346/282
Vista geral do Moinho Paranaense. A Divulgação, Curitiba, 1952. Edição 00005-00006, p. 10. Biblioteca Nacional/Hemeroteca Digital Brasileira (BN/HDB). http://memoria.bn.br/docreader/095346/1356
Projeção do Moinho Paranaense na triticultura do Estado. A Divulgação, Curitiba, 1955. Edição 00008, p. 7. Biblioteca Nacional/Hemeroteca Digital Brasileira (BN/HDB). http://memoria.bn.br/docreader/095346/2937
Desmascarado o truque: Moinho forçava demissão de empregados mais antigos. Última Hora, Curitiba, 14 de junho de 1960. Edição 2513, p. 10. Biblioteca Nacional/Hemeroteca Digital Brasileira (BN/HDB). http://memoria.bn.br/docreader/830348/5641
Moinhos negam-se a fornecer trigo: cidade ameaçada de ficar sem pão! Última Hora, Curitiba, 19 de fevereiro de 1963. Edição 532, p. 2. Biblioteca Nacional/Hemeroteca Digital Brasileira (BN/HDB). http://memoria.bn.br/docreader/830348/16249
Falta de trigo é boato: estoques abastecerão o Paraná até dezembro. Correio do Paraná, Curitiba, 29 de setembro de 1964. Edição 1576, p. 4. Biblioteca Nacional/Hemeroteca Digital Brasileira (BN/HDB). http://memoria.bn.br/docreader/171395/26536
GALINDO, Rogério Waldrigues. Moinho Rebouças é a nova casa da Fundação Cultural de Curitiba. Gazeta do Povo, Curitiba, 15 de maio de 2006. https://www.gazetadopovo.com.br/caderno-g/moinho-reboucas-e-a-nova-casa-da-fundacao-cultural-de-curitiba-a0x6waxd9qlxzpzjljs94ihxq/